De certo não termino por aqui... mas cá tens, mais um pedaço de mim!

Passaram apenas algumas horas desde a última vez que te escrevi. Curioso, sinto como se anos tivessem decorrido. Porque será!? Questiono-me sempre do porquê das coisas, porque te escrevo, porquê a ti, porque é assim, porquê hoje, porque acredito, porquê que insisto, porque não desisto, porquê, porquê e mais porquês... basta, não preciso de passar a vida a indagar-me, a indaga-la! É, e pronto! Volto á "nossa conversa". Apercebo-me que talvez nunca tenhas conhecido nem venhas a conhecer a minha intensidade, a grandiosidade do que sinto, a alma com que escrevo. Mas sabes, não importa! Tu existes, ou exististe, na minha mente, no meu coração, nos meus dias, algures num tempo que não volta mais. Ou será o avesso!? Talvez te escreva por já adivinhar qual a etapa seguinte, e saiba do quão vai doer, mas que vai passar, do quão vou tentar, em vão. Sim eu sei, planos e projecções não são mais do que isso mesmo, mas não percebes?! Na realidade tudo já aconteceu, e está acontecer de novo, como um dejavú, será que compreendes!? Tudo bem, não preciso que respondas, só achei prudente, para ti e para mim, que ambos tivéssemos a perfeita noção do que se vai passar aqui. E não te falo como realizadora de um filme qualquer, mas sim como protagonista da história que juntos inventamos. Noutra era. Lembras-te?! Enfim, ainda não tive a coragem de te enviar estas minhas alucinações reais. Sei que vais saber exactamente do que falo, mas não irás de certo tentar compreender, ou pelo menos não colocarás tantas interrogações, sempre foste o mais prático, faz parte da tua natureza. Não me queixo, se levei sozinha o barco, até ao porto onde se encontra agora e mesmo assim, ele naufragou, então é porque era assim que tinha de ser. Eu sempre soube aceitar melhor as coisas, as escolhas. E sabes, na realidade, o crucial, pelo menos para ti, não é o hoje, mas sim o amanhã, quando te apetecer voltar e tentar que tudo se desvaneça só porque me sorris docemente. Desengana-te meu bem, não sou tola. Joguei uma vez e perdi porque o meu parceiro de jogo abandonou tudo a meio, mesmo sem eu me aperceber, ou ter fingido não perceber, e agora, não entro nessa de novo, não quero jogar mais esse mesmo jogo. Desculpa-me tantas palavras, sei que nada me perguntaste, mas sou cautelosa e sempre avistei a tua previsibilidade, e caramba, como isso permanentemente te irritava. Percebo, ainda assim, que também o meu papel de compreensiva se esgotou, e hoje, vim apenas completar e deixar claro, palavras que outrora melosamente projectei para ti. Ainda que com ternura, vim dizer-te um "adiós cariño", porque não sei quando será a próxima vez, aquela definitiva em que te entregarei tudo, cada carta, cada texto, e a música que te escrevi. Não sei se alguma vez as irei entregar, mas fica aqui, um pouco mais da minha despedida. Porque aos poucos, dói menos. ( . . . ) Fiz uma pausa mas voltei, não quero terminar este capítulo, este pregaminho, de forma tão depravadamente dolorosa, porque de fato não é assim que a sinto. Reconheço o meu altruísmo quando simplesmente te deixei ir, porque precisavas. Só não esperes que eu esteja sempre aqui na volta de todas as tuas viagens. O mar não pára e nem as ondas deixam de quebrar na areia, e aqui também não será diferente. Aprenderei a ser mais pragmática, prometo. Mas garante-me que também tu aprenderás a ver as coisas de um outro ponto de vista que não os escassos centímetros que consegues vislumbrar do teu nariz. Pois então, sejamos breves. O que tem de ser tem de ser e o que não tem de ser não será. Aqui te entrego mais um pedacinho da história que candidamente me ajudaste, com ilusão, a criar. Da próxima vez, talvez a velha cassete vá junto também, por agora, são só mais umas letras.

PS: controla essa tua ansiedade que de longe já te aprecio com esse inquietar em cada passa do teu cigarro. E espera, mais esta vez. Vou revelar-te um trunfo. Talvez agora, o jogo do gato e do rato seja meu, o meu.

Com ternura,

“ because you are, my only obsession ".