Vem no jornal
Outono chegará quente
Lá longe os tempos vão
Em que as estações eram quatro
Do inverno ao verão
Agora não,
Agora não rimam minha gente
Mas têm as flores
Perdi as datas, as estações
Mas lembro as cores
As regatas, as orações
Cabeça de velho, escaça lucidez
Tão pouco faz sentido mais
Pouca memória
Só lembra a história
Velha de uns tempos atrás
Ah eram as rosas
Lembro-me bem
Milhares delas
Mais de cem
São dez do mar
Oito ao redor
Sem te amar
Sei-te de cor
Fazia poemas
Eram de amor
Já não recordo, nem dela.
Mas que mentira
A quem engano?
Teu perfume caxemira
Teu lençol feito de pano
Sou velho poeta
Não tenho idade
As cartas escritas a caneta
E em cada letra a saudade
Mas sou carcassa, homem pó
Capaz de amar a uma mulher só
Ela jaz aqui, não mais porém
Partiu da terra e foi além
Não mais a vi, perdi-lhe o rasto
Fiquei sozinho neste pasto
Sinto-lhe o aroma, todo o sabor
Quando esfria ou faz calor
Vem com o brilho ou a brisa do ar
Com um sorriso vem-me avisar
Que está na hora de partir
Mas tolo sou, não a deixo ir
Pois não se vive sem o amor
Então eu mesmo tratarei da minha dor
Aqui jacente, Acácio
O velho poeta da flor.
Nenhum comentário:
Postar um comentário